sexta-feira, 15 de novembro de 2013

HISTÓRIA DO FILMA VIVA O CINEMA BRASILEIRO COM CENAS GRAVADO EM SERRA DA TAPUIA


Há um cinema diferente por aí. Um cinema que não depende de estúdios, nem de muito dinheiro para acontecer, mas que não chega a ser feito de uma maneira espartana. O cinema-processo - como é chamado pelos seus idealizadores - reside na filosofia do “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Mais que isso, é um movimento de cinema livre, onde tudo pode mudar e se adaptar. Onde as coisas estão em constante ebulição. Em outras palavras, cinema-processo é uma equipe de cinema realizando um filme com os recursos que encontram no local, sejam financeiros, humanos ou até mesmo um simples copo d´água para saciar a sede.

Nascido da cabeça do cineasta potiguar Buca Dantas em parceria do roteirista Geraldo Cavalcanti e da necessidade de se criar algo novo, diferente, o cinema-processo é uma metodologia de trabalho que pressupõe outras metodologias, como a economia solidária e o protagonismo local. “É o compromisso de contar histórias com as pessoas dos lugares, com os saberes dessas pessoas, é a gente juntar o nosso saber técnico com o saber lúdico dessas pessoas, convidá-las a se tornarem atores de si mesmo”, simplifica Buca Dantas. Com esse idealismo, Buca realizou o primeiro filme sob o signo do Cinema-Processo em 2006, quando ele e sua trupe se mudaram de mala e cuia para o “interior do interior” do Rio Grande do Norte.

“Quando chegávamos às comunidades, a primeira reação era de estranheza”, rememora. Falar de cinema num lugar onde a maioria das pessoas sequer pisou numa sala de exibição não é tarefa fácil. “Nós tivemos que convencer as pessoas de que aquela proposta era verossímil, e sem ter nada que provasse que ali seria realizado um filme, já imaginou?”. Quebrado o gelo inicial, a adoção dos moradores de Bom Sucesso, uma das comunidades escolhidas para a realização do filme, foi total. “A princípio não tínhamos roteiro, tínhamos um personagem apenas. Reunimos a comunidade e explicamos como era a personagem, e perguntamos o que eles fariam se alguém daquele jeito chegasse ali”, explica a atriz Quitéria Kelly, protagonista do filme Viva o cinema brasileiro!, obra inaugural do Cinema-Processo.

A partir daí se deu a construção da narrativa. A personagem de Quitéria foi sendo redefinida in loco com a concepção das pessoas, além das outras tramas da história. “Depois dessa tempestade de idéias, Geraldo (Geraldo Cavalcanti, roteirista) reunia essas sugestões e criava um fio narrativo. Esse texto era repassado para a equipe, que criava na hora”. Não só verdadeiros roteiristas, os moradores também atuam nos filmes. Durante as filmagens cada um teve meia-hora para ir em casa buscar o seu próprio “figurino”. “Nós fizemos oficinas para ensinar para eles noções básicas de como não olhar para câmera, improviso, alguns exercícios teatrais para relaxamento, e a gente ia gravar no mesmo dia. A cidade parava. Todo mundo ajudava”, explica a atriz.

QUANDO A PERSONAGEM VIRA PADROEIRA

Numa época de seca intensa e de temperatura elevada, a equipe percorreu três comunidades da região do semi-árido do Rio Grande do Norte: Serra da Tapuia, Barro Preto e Bom Sucesso, onde foi gravada a maior parte do filme. Com cerca de 800 habitantes, Bom Sucesso é um distrito da cidade de Santa Cruz, onde, obviamente, não tem cinema e o lazer se resume em colocar as cadeiras para fora de casa e bater papo com a vizinhança.

Quando a trupe cinematográfica aportou por lá, a comunidade não via chuva há pelo menos nove meses. Com a chegada da curiosa equipe de cinema, o imaginário do povo foi mais além. “O sertanejo é desconfiado por natureza. Mas, no momento em que se estabelece uma empatia, aí a casa dele passa a ser a sua”, explica Buca Dantas, dizendo que não demorou muito para os moradores ficarem arrebatados pela sétima arte. “A padroeira do lugarejo que até então não existia, acabou sendo Santa Luzia, em homenagem à personagem que nós tínhamos levado, uma certa Luzia recém chegada da Europa, filha de coronel que precisava se casar”, explica o cineasta. “As pessoas passaram a associar a chegada da gente como um sinal de que a chuva ia chegar, que algo iria mudar por ali”, revela a atriz Quitéria Kelly.
CONFIRA AS FOPTOS:









FOTOS DE ALEXANDRE SANTOS
FONTE:Felipe Mamede

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