Quarenta mortos em seis dias no hospital Walfredo Gurgel
Cerca de 40 pacientes morreram entre a última sexta-feira e ontem no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HWG), maior hospital público do Rio Grande do Norte, por complicações em seus quadros clínicos decorrentes da falta de medicamentos e condições de trabalho para os servidores prestarem o devido socorro. As informações são do diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde do RN (SindSaúde), Marcelo de Melo. A direção do hospital, no entanto, confirmou o óbito de 16 pacientes no período. A situação problemática do Walfredo ganhou repercussão na mídia nacional na última terça-feira. Um dia antes, o Ministério Público Estadual (MPE) havia realizado uma inspeção na unidade, constatando uma série de irregularidades que devem ser formalizadas em relatório. A crise na saúde pública potiguar também passa pela paralisação dos médicos e demais servidores da área.
O Walfredo Gurgel se encontra sem diretoria geral a cerca de quinze dias - nesse período as diretorias administrativa, financeira e de enfermagem estão respondendo pelo hospital. A reportagem do Diário de Natal esteve no hospital na manhã de ontem e constatou que, mesmo com a pouca movimentação, pacientes faziam filas em macas espalhadas pelos corredores do HWG aguardando atendimentos e transferências. Como é o caso do paciente Antônio Pereira de Melo, diabético e que aguarda há 20 dias em uma maca por uma vaga no Hospital Ruy Pereira (antigo Itorn). Ele reclama da demora no atendimento, das filas e péssimas condições dos banheiros. O paciente diz que até a troca de um curativo é difícil com a greve dos servidores da saúde, que dizem não ter tempo para o atendimento básico nem para a troca do soro, restando aos pacientes esperar. "A gente vem tratar de uma patologia e corre o risco de pegar outra aqui", o relata.
Desabastecimento
Para o diretor do SindSaúde, Marcelo de Melo, os problemas de superlotação e atendimento no Walfredo Gurgel não são novidade. Marcelo conta que faltam medicamentos como sedativos, anestésicos, antibióticos e anticoagulantes, dificultando o trabalho dos profissionais que nada podem fazer. "A gente está lidando com a vida humana, essa situação tem que ter um basta", diz ele.
O diretor do sindicato diz que faltam também itens básicos como lençóis no hospital e os pacientes, principalmente idosos, têm que contar com a ajuda da família para trazer casacos e lençóis de casa para que não morram de frio com o ar condicionado do hospital à noite.
Quanto à série de greves que a saúde vem acumulando, o dirigente sindical diz que as negociações com o governo não avançam. As principais reivindicações do SindSaúde são salariais, melhores condições de trabalho, a contratação imediata dos concursados e a oposição à terceirização dos serviços de saúde pública.
O Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed) também vem trabalhando com apenas 30% do seu efetivo, devido à atrasos no pagamento e condições de trabalho inadequadas. Segundo seu presidente, Geraldo Ferreira, a crise na saúde está consolidada. "O lixo acumulado nas paredes do Walfredo Gurgel é um retratode como a saúde pública vem sendo tratada pelo governo, como lixo", o enfatiza. O presidente do Sinmed afirma que a greve vem sendo feita com muita cautela para que não traga risco de vida à população que precisa de socorro. "Estamos abertos às negociações financeiras, mas o que não pode ocorrer é ver o hospital se tornar uma casa de mortes", finaliza Geraldo. Na tarde de hoje, o Sinmed deve se reuniu com o governo para negociar as causas da greve e discutir os rumos da saúde pública no estado.
Matéria do DNonline
Nenhum comentário:
Postar um comentário